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2 de abr. de 2012

Parte 5 - A festa de Elisa


Seria aquele momento a comemoração de seu próprio aniversário se não fosse por um pequeno detalhe: a data! Trajava um belo vestido de tecido esvoaçante, estampas pastéis que permitiam um vislumbre sutil de suas delicadas curvas. Nos longos cachos, uma flor e um perfume suave escolhido cuidadosamente. Unhas feitas e um belo salto. Descia as escadas como rainha, causando perplexidade nos que estavam abaixo dela.

Théo ajeitou-se no sofá para melhor perceber a irmã, mas foi Jairo quem tomou a iniciativa de ir ao encontro de Elisa e dar-lhe a mão para descer os últimos degraus. Pedro, no outro canto da sala, sorria irônico e Dona Cecília, a homenageada da noite, não esboçou nenhuma reação. As filhas transbordavam de alegria com a beleza imponente da mãe.

Seu encanto vinha de dentro. A realização em ver toda a família reunida era indescritível. Aquele não era o momento para problemas. Com esmero, cuidou pessoalmente de cada detalhe da recepção familiar e ainda conseguiu se organizar para si mesma. Sua casa estava linda e também suas filhas. O cardápio perfeito abrangia o paladar de todos os presentes. Ela, como ninguém naquele recinto, gostava de receber as pessoas e sabia como fazê-lo bem.

Lamentou momentaneamente a ausência do pai, e logo esqueceu. Seu irmão Théo estava lá e isso era o que verdadeiramente importava, era seu apoio e representava competência. Jairo era a beleza, a inteligência e a força física. Nutria pelos irmãos admiração, paixão, ciúme e sentia uma leve tendência à completude, não fossem as limitações na relação com ambos. Théo era muito fechado, não lhe dava espaço para falar de angústias ou alegrias, mas seu olhar abrandava sua alma sempre que estava por perto. Jairo, sedutor, lhe fazia sorrir sempre, encarava a vida com bom humor, mas algo acontecia que a deixava insegura nessa relação. Ela não atentava para esse fato de forma consciente, o que ocorria, de tempos em tempos, levando para longe seu irmão mais velho.

Uma distância afetiva, por força da qual, de repente, ele se trancava e junto à mãe a fazia chorar. Nesses momentos sentia falta de Théo e de tudo o que poderia ter feito para, como ele, não precisar de ninguém, ser livre, elegante e importante. Só na imagem do gêmeo sentia força, nem o pai lhe trazia tal referência. Naquela noite, Jairo estava como ela apreciava: encantador! Tecia-lhe os melhores elogios, tratando-a como fidalga, mais galanteador como gostaria que fosse o seu próprio marido. Cercada por homens e invejada pela mulher que, apesar de todo o amor incondicional, sempre competiu com Elisa, assistiu o passar dos anos imersa em uma amálgama de sentimentos e incertezas sobre sua própria imagem e capacidade de ser amada.

Só mesmo a proximidade de Théo motivava a fluidez feminina e também a competição com a própria genitora pelo amor de Jairo. Pedro era coadjuvante e sua função era alimentar a máscara de vítima para toda a família. Assim como a maioria das mulheres daquele sistema, se tornar mártir era uma honra, nem que para isso precisassem elas próprias destruírem umas as outras. Não tardou muito para que Elisa murchasse e seu brilho apagasse frente à acidez materna, o destino era a pia do banheiro e um espelho para limpar a maquiagem que se desfazia como a falsa e momentânea autoestima.


Ana Virgínia Almeida Queiroz

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