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Blecaute.

Seu desejo imediato era apenas um. Precisava de horas de luz, que a noite findasse naquele exato instante levando consigo seus medos e a imagem de seu pai....

EncontrAR-TE.

É que desde tenra idade ela funcionava assim... como uma parabólica. Sentia coisas que podiam vir de muito longe...

Pra bem longe do fim....

Ele poderia enchê-la de luz, retirá-la da dor sombria que envolvia sua alma...

Espelhos

Uniram-se atraídos pela vaidade e necessidade de reencontrarem parte de si mesmos...

O desnudar-se cafajeste

Tudo convergia para a crença de que aquele dia seria apenas mais um como todos os outros...

6 de jun. de 2012

Parte final – Basta-te Miranda!

Miranda, sentada à beira da cama, ouvia atônita a história confusa e estabanada de Fred. Sentia um alívio inexplicável, mas ao mesmo tempo forçava-se à dor da decepção provocada pela traição do marido. Tinha o direito de sentir-se magoada e afundar-se em novo processo depressivo, diferente do anterior em função apenas das motivações.


Olhava para dentro de si buscando palavras que pudessem explicar para ela mesma e para o companheiro o que se passava naquele quarto, cenário de tantas vivências felizes e, ao mesmo tempo, a representação do vácuo que se estabelecera entre eles. Viveram juntos sob o mesmo teto, dividiram um leito por anos, e a sensação de que nada restara concretizava-se a cada vez que conseguia levantar o olhar e fitar o desespero de Fred.

Via refletir nele toda a escuridão que se fizera seu próprio lar, durante a sua vida inteira, e sentia-se, pela primeira vez, feliz em saber-se normal, digna de liberdade. Por mais que ele merecesse sua gratidão e auxílio, não podia afundar-se em seu sofrimento. Era pesado demais e já não desejava a morte, como em outros tempos. Percebia, finalmente, que sua vida era um presente que apenas ela poderia ofertar a si mesma, e talvez não encontrasse outro momento. Fred deveria traçar sua própria história de dor e crescimento, assim como ela.

Olhou o cônjuge com carinho, e uma faísca de pena, não mais que isso, se acendeu em seu peito. O caminho que agora ele percorria lhe era extremamente conhecido; cada pedra, árvore e buraco que compunham sua trajetória eram elementos que queria levar consigo onde estivesse. Eram seus e os valorizava como o ar que penetrava finalmente em seus pulmões.

A tristeza de Fred a libertava! Finalmente ele se mostrava humano, vulnerável. Nunca, em toda sua história, fora apresentada àquele homem que estava ali, inibido, enrolado em seu corpo, ferido por ele próprio. Pensava no longo trabalho que uma nova companheira teria com ele e desejava sinceramente que obtivesse mais êxito que ela.

Fred era desses homens difíceis de encontrar. Responsável, provedor, preocupado e muito, muito bonito. Teimara por anos na manutenção daquele casamento, mas agora já não fazia mais sentido. Tudo o que haviam construído juntos resumia-se em mais um castelo, que ela acreditara ser o último e definitivo. Não era! A vida não poderia findar-se entre paredes.

O mundo descortinava-se iluminado diante de seus olhos. Não sabia ao certo por onde começar, mas daria o primeiro passo na bifurcação da estrada que desenhava a história de sua vida. Viveria intensamente suas escolhas, sem o peso medroso que lhe judiava a alma cada vez que se imaginava genuína. Queria viver para si e descobrir a grandiosidade do ser que habitava em seu corpo, livre, puro e sereno.

Levantou-se, sorriu suave para o marido e dirigiu-se ao espelho. Era incrível como sempre estivera ali, mas não se via. Apaixonava-se, finalmente, por quem jamais a abandonaria.


Ana Virgínia


Para entender a parte final, leia os demais contos:




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